Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, v.1, n.1 - I Congresso Nacional de Educação Matemática da Grande Dourados

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LUDICIDADE E ENSINO DE MATEMÁTICA: FERRAMENTAS ESTRATÉGICAS NA INVENÇÃO DA INFÂNCIA
José Wilson dos Santos, Juliana Medeiros Nunes, Mariele Ortega Vieira, Dieine Jaqueline Afonso, Renata Rodrigues Souza

Última alteração: 2018-09-08

Resumo


Este texto propõe um tensionamento de análise a partir de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto “Práticas Discursivas Movimentadas em Livros Didáticos do Ensino Médio” e discorre sobre a utilização do lúdico no processo de ensino e de aprendizagem de Matemática. Tem como objetivo propor reflexões acerca de uma ludicidade que, sob o artifício de promover a descontração a um ambiente “carregado” como muitas vezes é visto a escola e a disciplina de Matemática, constrói um modo de ser criança. Nesse movimento, tomamos como material empírico alguns artigos sobre a temática em questão, publicados nos anais do XIX Encontro Brasileiro de Estudantes dePós-Graduação em Educação Matemática (EBRAPEM), realizado em Juiz de Fora - MG no ano de 2015, além de alguns documentos oficiais que normatizam a Educação Básica. Apoiamos nossas argumentações nas teorizações de Michel Foucault, e utilizamos o governamento como ferramenta para pensar. Nossas análises apontam para a construção de atividades que buscam, para além do conhecimento matemático, a construção de um determinado sujeito, pensado e constituído por meio de práticas discursivas que visam atender as exigências atuais do mercado, sendo o lúdico, o objeto de sedução, de captura do sentimento da criança, de governamento da infância e fabricação de um sujeito, pensado e constituído para atender as exigências e a voracidade do mercado econômico neoliberal. Nota-se nesse processo o apelo ao lúdico e suas contribuições para tornar o indivíduo capaz de resolver seus próprios problemas, assumir riscos, lidar com regras e renegociá-las, superar seus limites, dentre outras características próprias do neoliberalismo, onde o Estado se isenta ao máximo da atenção aos indivíduos, atribuindo a estes a responsabilidade sobre o seu próprio sucesso ou fracasso. Trata-se de um processo de disciplinamento ou, nas palavras de Foucault, de docilização dos corpos infantis, visando tornar a criança apta e receptiva a saberes estrategicamente elaborados para fins específicos que, uma vez admitidos como seu, o constituem enquanto sujeito. Não é difícil compreender que há jogos e brincadeiras característicos de cada época. Ora, quem é que elabora esses jogos senão os adultos de cada tempo? Assim, por meio da ludicidade se constrói a infância desejada em cada período histórico. Sob este viés, chamamos atenção para o que denominamos ludotecnologia, uma alusão ao aspecto lúdico presente nos recursos tecnológicos, que dão um ar de “modernidade” ao processo educativo. Que criança resistiria ao divertido show de luzes, cores e sons presentes nas “novas” tecnologias digitais? Entendemos que, para além das possibilidades de aprendizagem, tal estratégia amplia a capacidade de sedução e de captura da “alma” da criança, apresentando a tecnologia como um cartão de entrada do sujeito na sociedade contemporânea onde consumir tecnologia, apresenta-se como uma forma de “estar” no mundo. Entendemos que uma análise critica do lúdico, e da ludotecnologia, possibilitará um (re)desenho do papel da escola diante de uma formação que carrega consigo estratégias de formatação do sujeito para a sociedade do consumo.

Palavras-chave: Ludicidade. Tecnologia. Governamento