Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, IV SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2019

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IDENTIDADES FRAGMENTADAS E A PESSOA PRIVADA DE LIBERDADE
Maria Aparecida de Barros

Última alteração: 2019-07-25

Resumo


Nesta comunicação pretendemos propor uma reflexão sobre a fragmentação das identidades e o descentramento do indivíduo nos tempos atuais. Em especial, nos deteremos na análise da identidade da mulher em situação de prisão, a partir de um relato oral. A narrativa da história de vida da jovem Nádia, 19 anos, acusada de tráfico de drogas, cumprindo pena em Regime Fechado será o objeto deste estudo. Através dos relatos orais, da voz encorajada, podemos recolher fragmentos de memórias, trazidas então, à luz, e discorrer sobre identidades cambiantes, fracionadas, marcadas pela violência, pelo crime, assim como pelo desejo de ser feliz e fazer o que supõe ser o bem. Identidades contraditórias, múltiplas. Para esta análise, teremos como referências teóricas estudos sobre memória individual e coletiva, oralidade e literatura oral, as identidades culturais em tempos de pós-modernidade, e reflexões sobre o papel da mulher no decorrer do tempo. A História Oral procura ouvir aqueles que não importam para os grandes centros e que estão à margem do consumo; pouco ou nada produzem, como é o caso das mulheres encarceradas. Assim, concordamos com a afirmação de Sebe Bom Mehy ao explanar sobre o papel da História Oral: “sabe-se que ela é, pelo menos, uma janela que deixa ventilar o ar puro do ‘tempo presente’ e que sem ele não se pode pensar a sociedade e os projetos de melhoria da vida coletiva com base em saber rigoroso e comprometido” (SEBE BOM MEIHY, 2006, p.194). Para analisarmos esse relato devemos considerar o contexto físico e social onde a narradora se encontra, que nos fala privada de sua liberdade, cercada por grades e muralhas. Esta condição provoca uma enorme angústia, decorrentes os diversos males decorrentes da prisionalização, e nesse sentido manter vivas as lembranças do mundo exterior é significativo, pois através delas, ainda se pode preservar um pouco de si, dentro de um espaço onde a individualidade é rara, e quase tudo é usado coletivamente. A prisão torna-se, para estas mulheres, o espaço fronteiriço entre a liberdade e clausura. Por meio das narrativas orais de história de vida, é possível obter um outro olhar sobre algo já acontecido, uma vez que cada pessoa narra tal acontecido a partir da sua subjetividade e de seu lugar no espaço social.

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