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Este artigo faz uma análise comparativa entre o filme Aquarius (2016), dirigido por Kleber Mendonça Filho, e o romance O sonâmbulo amador (2012), escrito por José Luiz Passos, buscando identificar procedimentos formais e relações conteudísticas que pontuem o tema fundamental aqui destacado: o ato de narrar como resistência à reificação do cotidiano. Importa destacar, a partir de uma crítica de cunho materialista, como o filme e o romance, ambos realizados por autores pernambucanos contemporâneos, compartilham aspectos temáticos e estéticos, na medida em que a singularidade de cada um deles aponta relações de particularidade para a compreensão do momento histórico em que se realizam. Para tanto, esse estudo comparado é estimulado pela iluminação mútua entre obra literária e cinematográfica em sua relação com a história e a sociedade, sem necessariamente se limitar ao estudo de adaptações. Importa considerar, no entanto, que o romance O sonâmbulo amador é citado diretamente em uma das cenas do filme Aquarius, reforçando a tese de que o diálogo entre ambos pode ser estabelecido, tanto por sua evidência intertextual, quanto pelo desenvolvimento temático que aqui pretendemos esboçar. No filme Aquarius, temos a trajetória de uma personagem que resiste a vender o seu apartamento a uma construtora, visando proteger seu modo de vida e suas memórias frente às investidas da empresa. No romance O sonâmbulo amador, por sua vez, temos um personagem que flerta com a loucura ao embaralhar suas memórias e sonhos enquanto tenta dar sentido aos traumas e conflitos do cotidiano. Em ambos, desenvolve-se um processo de enfrentamento à degradação do cotidiano por meio da tentativa de recuperar a experiência vivida por meio do ato narrativo. Assim, este trabalho busca analisar as duas obras na perspectiva de um produtivo diálogo entre cinema e literatura, em sua relação com o momento histórico no qual emergem.

Crítica Materialista; Estudos Interartes; Reificação.