Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, II SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2017

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DA REALIDADE À FICÇÃO PELA VISÃO DE PALAVRAS CRUZADAS, DE GUIOMAR DE GRAMMONT
Jéssica Rojas de Lima, Paulo Bungart Neto

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


A produção literária brasileira com baseamento no contexto da ditadura militar está tendo seu maior foco no período pós-ditadura. Pode ser pensada na linha dessa ampla produção que procura compreender, através da representação ficcional, um conjunto de romances que não tematizam diretamente os horrores da ditadura, mas são ambientados nela e tocam, direta ou indiretamente, em problemas ligados a esse período. Obras como, por exemplo, Palavras Cruzadas, de Guiomar de Grammont, publicada em 2015, tematizam situações ocorridas e vivenciadas pelas famílias dos desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia. Percebemos como os guerrilheiros lutaram pela liberdade e pela democracia, muitos jovens acabaram deixando as suas famílias em prol da luta pela igualdade (como os jovens protagonistas do livro, Leonardo e Mariana), expressando suas opiniões, trocando sempre o conforto de suas casas pelo frio da mata, a alimentação de suas casas pelas frutas nativas ou até mesmo passando fome. Um dos relatos impactantes, apontados por Grammont a partir da leitura do diário fictício de uma personagem, foi que as mulheres acabavam engravidando na mata, inclusive Mariana, namorada de Leonardo. Em alguns desses relatos, há descrição das crueldades relacionadas aos abortos feitos com as mulheres na guerrilha, sendo que algumas vieram a óbito ou ficaram estéreis, muitas vezes tinham que doar seus filhos aos militares se não quisessem ver os recém-nascidos sofrendo tortura. Essa situação é o centro da narrativa, pois o militar que presenciara a morte de Leonardo e Mariana adota a filha do casal, chamada de Luísa pela família e de Cíntia pelo militar. Vinte anos depois, sua tia jornalista, Sofia, encontra-a em Paris e conta-lhe a verdade. A análise do romance se concentra na compreensão da quebra de limites entre os discursos ficcional, histórico e memorialístico. Para a compreensão de aspectos conceituais relacionados ao contexto histórico em que perpassa a narrativa, a bibliografia utilizada gira em torno de publicações tais como o livro do jornalista Zuenir Ventura 1968 – O ano que não terminou, em que são relatados os fatos marcantes desse período, juntamente com os capítulos de autores como Elio Gaspari (2003) e Paulo Bungart Neto (2013; 2014). Quanto às teorias da memória, são utilizadas referências como Halbwachs (2006) e Lejeune (2008); sobre a relação entre memória e ficção, a pesquisa recorre a capítulos de Antonio Candido (2006) e Hayden White (2001).

Palavras-chave


Literatura contemporânea; Ditadura militar brasileira; Memória e ficção.

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