Tamanho da fonte: 

No final do século XIX e início do século XX, o teatro passou por uma série de transformações no modo de fazer que produziu reflexos em todos os aspectos do espetáculo teatral (cenário, figurino, iluminação, relação palco-plateia, relação diretor-dramaturgo-ator). No âmbito do texto, Peter Szondi localiza nesse momento o que ele denomina “a crise do drama”, que abrirá pressuposto para que outros teóricos classifiquem o teatro – amplamente modificado – feito no século XX como “teatro pós-dramático” (Hans-Thies Lehmann), “teatro performativo” (Josette Féral), “teatro rapsódico” (Jean-Pierre Sarrazac). A partir dessas classificações, interessa-nos refletir, nesta comunicação, a respeito do lugar do texto no teatro contemporâneo, mais especificamente no contexto brasileiro. Desde os anos 60, os processos de produção de teatro no Brasil mudaram: paralelamente aos teatros comerciais e aos não profissionais, existe um teatro de grupo, que permanece em trabalho mesmo sem patrocínio, dividindo suas tarefas (dramaturgia, atuação, direção, cenários e figurinos etc.) em processos que se denominam, de acordo com suas condições de trabalho, como “colaborativos” ou “coletivos”. Nesse contexto, o que percebemos no teatro brasileiro é certa desvalorização do texto no teatro, que ganhava um papel menor tanto nos processos de montagem da peça (guiados, sobretudo, por improvisações), quanto posteriormente, já que muitos dos grupos que escreviam sua própria dramaturgia não a publicavam e o texto se perdia passadas as montagens. Nesta comunicação, intentamos demonstrar nossa percepção de que o texto vem ganhando novamente um lugar de destaque (não privilegiado, mas em igualdade com os demais elementos) no teatro brasileiro contemporâneo. Vemos, atualmente, uma série de eventos voltados para a divulgação de dramaturgias construídas separadamente em relação às salas de ensaio (por exemplo, o projeto Seleção Brasil em Cena, do Centro Cultural Banco do Brasil, e o Janela de Dramaturgia, em Belo Horizonte), além de selos e editoras voltados para a publicação de novas dramaturgias nacionais (Editoras Javali e Cobogó, por exemplo).

Teatro brasileiro; Dramaturgia contemporânea; Texto e cena teatral.