Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, II SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2017

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O “MUNDO DO TEXTO” NA HERMENÊUTICA DE PAUL RICOEUR
Rafael Zanata Albertini

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


O filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) baseia-se nas categorias da “aplicação” e da “fusão de horizontes” – características da hermenêutica de Hans-Georg Gadamer (1900-2002) – para propor o conceito de “apropriação”, que traduz o fato de uma obra literária ganhar sua plena significação por meio da leitura. Se a tese romântica de Dilthey e a tese psicologizante de Schleiermacher tinham como lei suprema da hermenêutica a apreensão da alma (intenção) do autor escondida num texto, Ricoeur compreende que todo texto é uma obra, ou seja, algo que ganha autonomia no distanciamento do mundo do autor. Disso decorre uma nova compreensão de hermenêutica como a teoria que opera a transição entre a estrutura do texto para o “mundo do texto”. O mundo do texto – que se abre não atrás, mas diante da obra – se apresenta, assim, como sua transcendência, isto é, a abertura da estrutura de um texto para fora (diversamente do que pensava o Estruturalismo) e para o outro, de modo que interpretar seja compreendido como o ato de desvendar esse mundo aberto pelo texto. No ato da leitura, a experiência temporal do texto se projeta sobre o mundo do leitor, oportunizando que os sentidos ali presentes sejam apropriados por quem a lê. Nesse contato com a alteridade do texto, indivíduos e grupos se alteram (tornam-se alter, outros) ao refigurar suas próprias experiências e ao atribuir sentidos aos acontecimentos, seguindo o modelo das narrativas que constituem sua herança cultural – permitindo, por exemplo, que se fale em um “mundo grego” ou em um “mundo cristão”. Diante dessas propostas de mundo que apresentam variações imaginativas de si mesmo, o leitor se “irrealiza” para poder apropriar-se de tais propostas, fazendo do interpretar um processo de assimilação que torna a subjetividade um projeto sempre inacabado – por isso, aliás, Ricoeur prefere o termo “si”, discípulo do texto, ao “eu”, soberano, para referir-se ao sujeito. Essas considerações estão presentes, sobretudo, nas obras “Teoria da interpretação” (1976) e “Tempo e narrativa III - O tempo narrado” (1985), que fazem da ideia de mundo do texto o ponto nodal da teoria da leitura, segundo a qual qualquer texto somente completa seu sentido na experiência do leitor.

Palavras-chave


Paul Ricoeur; Hermenêutica; Mundo do texto; Teoria da leitura.

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