Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, II SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2017

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O "REAL" CONSTRUÍDO PELA IMPRENSA: SILENCIAMENTO MIDIÁTICO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL EM O BEIJO NO ASFALTO
Fabrícia Aparecida Lopes de Oliveira, Wagner Corsino Enedino

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


Depois de estudar a ideia estadunidense de democracia, no século XIX, Alexis de Tocqueville (1998) chegou a afirmar que a imprensa seria, na modernidade, um instrumento democrático em favor de todo o conjunto da sociedade. Para ele, até os mais pobres teriam voz nos jornais. Por outro lado, ao analisar o modo de ser da cultura norte-americana, na década 30, Teodor Adorno (2002) descreve a imprensa como uma arma ideológica usada pelos detentores do poder político e econômico em favor da manutenção de um mundo desigual, repleto de alienação. Como efeito, no lugar de dar voz, a imprensa colabora, no mundo atual, para silenciar os sujeitos, especialmente figuras minoritárias. A teoria Espiral do Silêncio, elaborada por Elisabeth Neumann (1977), discute, também, como a opinião pública, construída pela imprensa, cala os sujeitos que discordam da versão do “real”, hegemonicamente arquitetada pelos meios de comunicação. A peça O beijo no asfalto (1960), de Nelson Rodrigues, reflete esses efeitos midiáticos na sociedade e apresenta a discussão da distância existente entre o real empírico e o real tirânico midiático. Ao fazer isso, o texto expõe uma das principais crises da modernidade: a questão da essência versus aparência, fenômeno discutido por Guy Debord (1997). Revestido de efeito trágico, o protagonista Arandir, silenciado, se depara com a destruição de sua vida em razão de uma representação midiática que altera e “espetaculariza os acontecimentos” (DEBORD, 1997). Com base nos estudos de Ubersfeld (2005), Ryngaert (1996), Prado (2002), Magaldi (1988), Pallottini (1988), entre outros acerca do modo de estruturação do texto teatral, e da Sociologia da Comunicação, analisamos como o conteúdo de O beijo no asfalto, escrito na década de 60, ainda corrobora para a compreensão do processo de silenciamento atual contido nas mensagens da imprensa. Para ler a peça e seu diálogo com o contexto de hoje, lançamos mão, ainda, das ideias sobre discurso e silêncio, de Eni Orlandi (1964), e da teoria da subalternidade, de Gayatri Chakravorty Spivak (2010), para o entendimento acerca da ordem histórico-político que visa à perpetuação de um ponto de vista majoritário. Importa destacar que tal percepção materializa a violência simbólica, produzindo o sufocamento das vozes minoritárias e suas versões dos fatos.

Palavras-chave


Silenciamento midiático; O beijo no asfalto; Nelson Rodrigues.

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