Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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A REESCRITA DO TRAUMA EM ISABEL ALLENDE
Valéria Sales Menezes, Leoné Astride Barzotto

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


A partir da memória da escravidão, o presente trabalho tem por interesse recuperar o colonialismo e a escravidão como um dos maiores eventos traumáticos, ou catastróficos da humanidade, que, a partir de um auctor, pode testemunhar por tantas mulheres negras que sofreram os mais diversos abusos durante esse período de reificação humana. Essa é a função da chilena Isabel Allende no romance A ilha sob o mar (2010); por meio da autora, conhecemos Zarité, uma escrava que foi comprada por um colonizador francês em São Domingos, onde hoje é o Haiti. Como personagem principal, Zarité toma a palavra para si e torna-se sujeito da narrativa, na qual representa uma coletividade marcada pela escravidão como propulsora de abusos e opressões advindas da colonização. O livro é narrado em terceira pessoa, mas há dezesseis capítulos narrados por Zarité; nesses, ela faz uso de dois mecanismos para o exercício da memória, frases como “assim me contaram” e “assim me lembro” funcionam como chaves para a compreensão do romance em questão. Os trechos iniciados com a frase “assim me contaram” narram a memória coletiva do povo haitiano perpassada pela história oral, bem como os personagens históricos e seus feitos para a revolução e deliberação da primeira grande revolução antiescravagista do planeta feita pelos próprios negros, quiçá a única. Já nos trechos iniciados com a frase “assim me lembro” ocorrem a narração da memória individual da personagem, Zarité relembra os abusos por ela sofridos diante das amarras coloniais vigentes. Nos dois casos, memória individual e coletiva diluem-se, pois mesmo que o ato de lembrar seja individual, a narrativa é coletiva, há intercorrências de ambas e em ambas. Deste modo, a memória seleciona momentos do passado e cabe ao historiador – e também ao romancista – não negar as catástrofes históricas a fim de desmascarar as “verdades eternas” por meio desses testemunhos suscitados pela memória.

 

Palavras-chaves: A ilha sob o mar; Zarité; Trauma; Escravidão.


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