Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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ESTRATÉGIAS POÉTICAS EM CARNE: UMA NARRATIVA SOBRE A MEMÓRIA
Leandro Santos de Brito

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


A presente pesquisa é uma investigação acerca das estratégias poéticas fundamentais ao espetáculo Carne: uma narrativa sobre a memória, produção da Solta Cia de Teatro, de Cuiabá, Mato Grosso. Entende-se esse espetáculo como uma narrativa híbrida, interartística, que propõe o diálogo entre diversas artes e mídias: sua proposta cênica foi concebida a partir de textos que trouxessem como tema a opressão, para o que recorreu a vários gêneros literários; a composição cênica dialoga também com as artes plásticas e o teatro, com recursos de figurino, iluminação, cenário e a disposição da plateia dentro do palco; faz parte da composição, ainda, a linguagem audiovisual, por meio da exibição de um curta-metragem e dos bastidores de um camarim filmado, ao vivo, e transmitidos através de projeção. A partir das experimentações é possibilitado ao espectador um ponto de vista particularizado, valorizado pelos fragmentos propostos (COMPAGNON, 1996), que atuam como estratégia de construção da cena e como exigência do percurso de leitura. O fragmentário, portanto, é um ato político de ressignificação do objeto artístico, uma forma de leitura necessária, que possibilita a multiplicidade de sentidos. Em relação aos processos de hibridação produzidos a partir do objeto fragmentado e fragmentário (VALENTE, 2015), observamos que em Carne, ao mesclar literatura, artes plásticas, dança, teatro e recursos audiovisuais, demonstra a dissolução das fronteiras entre as linguagens artísticas, quanto à hibridação dos sistemas sígnicos, quanto à intertextualidade e à intermidialidade. As performances dos artistas funcionam como um fio condutor metafísico aos afetos do espectador, que ora atua como sorvedouro, ora como produtor dos sentidos contidos nas espacialidades produzidas. Estamos, pois, pensando em mobilidades, em deslocamentos e, com isso, também na questão dos territórios e das fronteiras (GUATTARI; ROLNIK, 1996). É justamente neste sentido que caminha a escolha estética de Carne, quando desloca a plateia para dentro do palco, para dentro da cena, ou quando tira de seus territórios de origem uma série de linguagens artísticas e as direciona para a obra. Inicia-se com isso um processo de desterritorialização, ao deslocar de seu lugar confortável e tradicional, e imediatamente provoca um novo processo de reterritorialização ao imergi-los na performance, tornando-os nômades, desestabilizando as fronteiras do teatro tradicional que, ao diluí-las, abre espaço para a construção de uma nova sensibilidade, proporcionando ao público sair de seu lugar de passividade e sentir os cheiros, as cores, as texturas da peça, assim como tecer costuras entre linguagens artísticas oriundas dos mais diversos campos, atuando diretamente sobre o espaço simbólico e imagético.

 

Palavras-chaves: Interartes; Fragmento; Hibridismo; Nomadismo.

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