Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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LEITE DERRAMADO: UMA REMONTAGEM DA MEMÓRIA SOCIAL BRASILEIRA
Flávia Almeida Vieira Resende

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


O presente trabalho propõe uma análise de Leite derramado (2009), de Chico Buarque de Holanda, a partir da perspectiva da memória social que é remontada no romance. A hipótese desenvolvida aqui é de que a memória do personagem narrador Eulálio, um ancião acamado, herdeiro decadente da elite brasileira, relaciona-se com uma concepção de Brasil e com uma determinada leitura da história nacional. Seguimos a leitura de Roberto Schwarz, no artigo “Brincalhão, mas não ingênuo” (2009), que vê em Eulálio a construção de um “tipo nacional”, que entrega “sem querer” os segredos de sua classe. Para esta análise, partimos da teoria de Ecléa Bosi, em Memória e Sociedade (1979), de que a memória de pessoas idosas permite verificar uma história social bem desenvolvida, devido ao fato de essas terem atravessado um longo período temporal e conseguirem enxergar as transformações efetivadas durante toda sua vida. Eulálio, no entanto, não diz claramente acerca de tais transformações da sociedade brasileira, mas permite ao leitor entrever essas mudanças em meio à narrativa anacrônica de suas memórias pessoais, em que se sobrepõem uma sucessão de herdeiros, cada vez mais mestiços e de menos posses, e em que passado e presente constituem não uma linearidade, mas uma sequência fragmentária que permite uma remontagem da história nacional. Nesse sentido, será trabalhada também a categoria de tempo no romance, especialmente a ideia de anacronismo na literatura, e como ela influencia na construção da memória social. Este trabalho propõe, portanto, apontar qual é a concepção de Brasil que está presente na obra e de que forma a memória social do país é remontada por meio das memórias do protagonista.

 

Palavras-chaves: Literatura brasileira; memória social; anacronismo literário; Chico Buarque.


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