Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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UTOPIA SELVAGEM, DE DARCY RIBEIRO, SOB A PERSPECTIVA DA VIOLÊNCIA
Alessandro Aparecido Fagundes Matos

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


Darcy Ribeiro é lembrado, com certa frequência, por sua produção antropológica e carreira política; entretanto, sua obra literária não tem recebido a atenção necessária por parte da academia e da crítica. A temática constate de seus textos permanece atual se observarmos o momento político e social brasileiro, pois, falar da obra deste artista é colocar em pauta a sociedade brasileira e os problemas e marcas oriundas do processo civilizatório - período de colonização e sua continuidade, velada em nosso tempo - e da escravidão; traumas ainda não completamente superados conforme explicitado por Renato Janine Ribeiro (1999). Sem a pretensão de separar o sociólogo do romancista, percebemos a necessidade de trazer à discussão o romance Utopia Selvagem (1982), associada ao contexto de produção, sob a perspectiva da violência civilizatória. Esta trama é retratada no romance não somente por meio da agressão física, mas, sobretudo, pelo viver em sociedade que propõe a incorporação dessa ao cotidiano mediante a abolição das diferenças que o processo para a implementação da “civilidade” impõe. Na composição da obra, temos o personagem Pitum, ex-tenente do exército brasileiro, envolto, inicialmente, em uma guerra questionável, que transita por aldeias indígenas, tendo de se adequar às situações expostas para sobreviver às constantes ameaças de morte. O personagem, ex-militar e negro, passa a se mover entre mundos utópicos miscigenados, gerando um conflito direto com a lógica civilizatória. Atendo-nos a este ideário de sociedade civilizada, o objetivo deste trabalho é propor uma análise e reflexão sobre os personagens subalternos, pela perspectiva de Beverley (2004) e de Mignolo (2003), que existem e discursam, ainda que seus balbucios enunciados não sejam ouvidos pelo sistema/mundo colonial moderno, ou seja, a hegemonia, submergidos em um mundo utópico indefinido por conta das variadas perspectivas que compõe a obra em busca da definição da organização e composição social brasileira. Diante disso, ao realizar a leitura balizada pelas múltiplas formas de manifestação da violência - entender-se-á violência pela reflexão de Ginzburg (2012) e Odalia (2017) - entre elas física, psicológica, social e cultural, por exemplo, perceberemos como o processo civilizatório é extremamente violento e a maneira que age para homogeneizar as diferenças sociais.

 

Palavras-chaves: Processo Civilizatório; Violência; Subalternidade.


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