Este trabalho discorre sobre uma pesquisa em desenvolvimento no curso de Especialização em Educação Matemática e Ensino de Ciências, oferecido pela Universidade Federal da Grande Dourados. Tem como objetivo central analisar e descrever os discursos construídos sobre o campo da Educação Matemática na lente de alguns autores e editores de livros didáticos de Matemática. Nesse contexto, buscamos evidenciar uma compreensão individual-coletiva, ou seja, elementos de uma visão que não pertence a um único sujeito, mas a um campo discursivo, articulados e atravessados por outros discursos em uma rede de poder. Esperamos desta forma, evidenciar algumas divergências teóricas e epistemológicas entre o que propõe os sujeitos da pesquisa e autores do campo da Educação Matemática. Nessa perspectiva, tomando como parâmetro elementos da pesquisa qualitativa, e inspirados nas teorizações foucaultianas, tomamos como material de análise algumas entrevistas realizadas com autores reconhecidos no cenário nacional e também com editores de livros didáticos de editoras que tradicionalmente figuram entre as empresas que mais vendem livros para o Ministério da Educação (MEC). Nossa proposta não intenciona desvelar uma verdade encoberta sobre a produção de livros didáticos de matemática, nem mergulhar numa busca infinita por um sentido oculto nas frases dos sujeitos. Intuímos apenas descrever as tensões em uma rede extensa, complexa e multiforme, que colocada em movimento, produz um determinado tipo de livro, para “formar” um determinado tipo de sujeito e sociedade. Uma análise inicial nos permite inferir que, para além dos anseios “puros e bem intencionados” de se ofertar para as gerações futuras aquilo que de melhor a sociedade produziu em termos de conhecimentos científicos que, a partir de um processo de transposição didática, é colocado nos livros didáticos, observamos tal instrumento como objeto que permeia o campo educacional e econômico, cuja balança pode pender para um ou outro lado, a depender dos interesses daquele que faz uso do mesmo. Entendemos que os questionamentos levantados pelos sujeitos quanto a uma suposta idealização do aluno e da escola pelos educadores matemáticos, apontam não uma verdade definitiva, ou uma fragilidade do campo, mas um ponto de tensionamento dessa rede de poder, que articula saberes matemáticos, propostas educacionais e rentabilidade comercial. Compreender como funciona alguns nós dessa rede permitirá ampliar compreensões sobre os discursos que figuram não somente no livro, mas no próprio marketing e no processo de escolha deste material, possibilitando um (re)desenho das normas previstas para escolha do livro didático de matemática, de modo a considerar os discursos e interesses em jogo, numa trama que coloca o livro didático no campo do edubusiness.

Palavras-chave: Análise do discurso; Livro didático de Matemática; Relações de Poder.