Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, I Seminário Internacional Etnologia Guarani: diálogos e contribuições

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O petyngua: -ka’u como viagem xamânica
Vicente Cretton Pereira

Última alteração: 2016-10-28

Resumo


O presente trabalho busca analisar o xamanismo mbya guarani a partir da embriaguez (-ka’u), efeito do uso de tabaco. Dada a condição tekoaxy (“perecível”) desta terra em que se vive o uso de petyngua (cachimbo) constitui-se num dispositivo fundamental de controle ou de bloqueio dos perigos que emanam de subjetividades maléficas que habitam o cosmo mbya. Embora o efeito do tabaco seja o de “embriagar” a pessoa, como o do álcool, ele é posto duplamente em oposição a este: se é preciso “saber beber”, evitando excessos no uso do álcool, dizem comumente que o xamã é alguém que precisa agüentar o excesso do uso de tabaco a fim de realizar suas curas; além disso, se a bebida aproxima a pessoa do ponto de vista dos mortos, o petyngua faz o mesmo porém em relação à perspectiva dos deuses. O uso do petyngua, a qualquer momento do dia, manifesta uma afecção ou um desejo divino – é o nhe’ë (alma) que quer, me diziam – o que levou-me a pensar nas relações de distância (afastamento, aproximação) que são ativadas por este dispositivo. Como tanto o calor quanto o frio excessivos estão associados à aproximação dos espíritos dos mortos, sugeri que o uso do petyngua ajusta a temperatura do corpo a um grau mediano de um gradiente de calor, através de uma aproximação com os divinos e um simultâneo afastamento de potências causadores de males. Não se trataria assim, no xamanismo mbya, nem de esquentar a pessoa e tampouco de esfriá-la, mas sim de esfriar aquele que se encontra demasiado quente e de esquentar aquele que está gelado.

Palavras-chave: Mbya Guarani; xamanismo; embriaguez.


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