Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, I Seminário Internacional Etnologia Guarani: diálogos e contribuições

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Autonomia Guarani Charagua Iyambae: os desafios para superação da colonialidade do poder
Ludmila Ferreira Ribeiro

Última alteração: 2016-10-28

Resumo


Em Charagua, capital da Província boliviana de Cordillera território onde mais de 60 % da população é Guarani, uma nova etapa de concretização da autonomia indígena prevista na Constituição do Estado Plurinacional da Bolivia foi conquistada. Charagua é o primeiro município a se tornar autônomo. A Autonomia Guarani Charagua Iyambae é uma conquista histórica para os séculos de resistência da Nação Guarani que, dividida pelas fronteiras dos Estados Nacionais da Bolívia, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, luta para reconstituir sua territorialidade.Na Bolívia, após a Batalha de Kuruyuqui, em 1892, que resultou no assassinato de milhares de Guaranis, houve um longo período de silêncio e submissão. Muitas famílias migraram para a Argentina, outras tantas passaram a viver “apatronadas” trabalhando em fazendas em um sistema de semi-escravidão. Muitas outras mortes ocorreram na Guerra do Chaco até que a Nação Guarani começou a se reorganizar. Em 07 de fevereiro de 1987, em uma grande assembleia realizada no município de Charagua, foi fundada, a Asamblea del Pueblo Guarani - APG.Nestes quase 30 anos de existência, a APG tem atuado com uma pauta central: a reconstituição de seu território como fator primordial para a manutenção de seu modo de ser, ou Ñande Reko (modo de ser). Para a APG, a luta agora não é mais com arco e flecha, mas sim com lápis e papel. As mudanças políticas ocorridas na Bolívia como a Assembleia Constituinte de 2006, e a incorporação de princípios do Buen Vivir na Constituição em 2009, resultando na implantação do Estado Plurinacional, são marcos legais que viabilizaram na prática o processo de autonomia municipal indígena. No entanto, foi uma conquista que demandou muita luta, bloqueios, protestos e participação ativa nos espaços públicos e institucionais, o que exemplifica a lógica da modernidade é um desafio real relacionado à colonidade do poder, mesmo neste país que reconhece a plurinacionalidade.Resultante da nossa primeira etapa do trabalho de campo realizada no Departamento de Santa Cruz, Bolívia, entre julho e agosto de 2016, este artigo tem como proposta contextualizar a luta Guarani por autonomia de seus territórios no processo histórico do Estado Plurinacional, problematizando os desafios relacionados à gestão dos recursos próprios e à dimensão simbólica na busca por superação da colonialidade do poder.

 

Palavras-chave: Autogoverno, Autonomia Indígena, Nação Guarani, Colonialidade, Plurinacionalidade


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