Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, I Seminário Internacional Etnologia Guarani: diálogos e contribuições

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O cinema Indígena no caminho da descolonização e da autonomia
Ana Carolina Estrela da Costa

Última alteração: 2016-10-26

Resumo


A mostra "O Olhar Como Forma de Resistência", no festival Forumdoc.2016, na UFMG, reuniu dezenas de realizadores indígenas latinoamericanos, exibindo e comentando seus trabalhos. No cerne dos debates, a demanda pela ocupação, descolonização e transformação de instituições através do vídeo. Vimos experiências contrastantes, como, por exemplo, de cineastas bolivianos que conquistaram espaço nas políticas públicas nacionais, com redes de rádio/TV e centenas de produções. Mas os coletivos e cineastas brasileiros, como os Maxakali, Krahô, Xavante, Guarani, Kuikuro, Kaiowá, Kalapalo, mostraram ali um cinema distante daquele documentário com voz off explicando um contexto, pessoas respondendo a entrevistas, e imagens ilustrando o assunto com uma trilha sonora. A estratégia de cineastas e coletivos latinoamericanos, em geral, parecia ser produzir um material a partir das demandas locais para contrapor suas lutas à invisibilização nos meios de comunicação. Mas o "cinema indígena" brasileiro ali mostrado não se incomoda se o evento filmado não é completamente explicado, admitindo que filmadores e filmados construam o filme enquanto produzem aquilo que se filma. A direção primordial parece ser dos mestres dos ofícios e saberes filmados, e especialmente dos xamãs, que além de mediarem relações com os "donos" míticos/ancestrais desses saberes, são especialistas no olhar e na escuta: ou seja, justamente no que se põe em jogo no cinema. Filmes como os dos Krahô e dos Maxakali, que não necessariamente trazem discursos políticos de disputa por poder e negociação de direitos, constituem um exercício político-relacional. Eles trazem aos expectadores uma experiência sensível que suspende o tempo da "informação" e convoca nosso olhar e escuta para o encontro em que consiste a filmagem. Talvez por isso, terminado um filme Krahô, ao fim da mostra, o cineasta xavante Divino Tserewahú tenha declarado: "isso é que é cinema, indígena mesmo", reconhecendo, ali, a política relacional de um olhar que não só captura e informa. A incursão de pensadores indígenas no modelo acadêmico de produção de conhecimento atravessa desafios para implementar diálogos que resistam à colonização técnico-científica. Mas examinando recentes realizações cinematográficas indígenas brasileiras e a crescente demanda pela formação de cineastas e pela circulação de filmes, percebemos que o cinema, como tecnologia relacional e dinâmica de produzir e descrever eventos a partir do olhar e de escuta, permite mais autonomia aos realizadores, que submetem sua produção aos seus modos necessariamente coletivos de estabelecer e negociar relações, propor narrativas e experiências sensíveis, e produzir e fazer circular saberes.

Palavras-chave: Cinema Indígena, políticas ameríndias, olhar e escuta.


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