Última alteração: 2018-09-30
Resumo
O espaço urbano na literatura brasileira contemporânea adquire novas configurações a partir da perspectiva pela qual é percebido e da relação que estabelece com os personagens, pois passa a interagir com o tempo, o personagem e o narrador, deixando, assim, de ser somente o lugar onde transcorre a história. Tal interação também modifica a organização estrutural da narrativa, porque colabora com a quebra da tradicional linearidade surgindo disso espaços justapostos, sobrepostos e complementares. Nesse sentido, este trabalho investiga a representação do espaço urbano em narrativas do século XX e XXI, de autores como Monteiro Lobato, Alcântara Machado, Marques Rabelo, Samuel Rawet, João do Rio, Rubem Fonseca, Osman Lins e Luiz Ruffato, com o objetivo de analisar as transformações do espaço urbano, as configurações das relações que personagem e narrador estabelecem com o espaço e como a percepção que têm dele reflete na organização da estruturara da narrativa. Por esse viés, tomamos o espaço da cidade como “móvel”, ou seja, enquanto confluência de movimento – esse é o espaço “praticado” a que alude Michel de Certeau, o qual corresponde ao espaço da experiência analisado por Walter Benjamin e de onde Charles Baudelaire apreende suas impressões. Como “móvel”, o espaço urbano assemelha-se a um palimpsesto, fluido, de difícil apreensão e descrição. Seu contorno é elaborado a todo instante, e sempre está em formação, recusando se espelhar contra o fundo de formulas e repetições. Isso interfere na legibilidade do espaço urbano, no reconhecimento do ambiente, na construção de uma cartografia afetiva entre o indivíduo e a cidade, refletindo, ainda, na estrutura da narrativa.
Palavras-chave: Literatura Brasileira; Espaço; Narrativa.