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O cinema brasileiro passa por um processo de renovação, mais precisamente, em1990. Trata-se de filmes com propostas estéticas com diferenças significativas entre si, obrasque têm uma forma mais fantástica, autoral e poética, que surgem em diferentes contextos eregiões geográficas do país. A literatura tem sido ponto de partida em todo o mundo desde osurgimento do cinema, com a transformação de obras literárias em narrativas visuais. Esteartigo propõe uma análise do filme Não Devore Meu Coração (2017), dirigido por FelipeBragança, gravado no interior de Mato Grosso do Sul, na cidade de Bela Vista, fronteira como Paraguai. O filme é resultado do processo de adaptação de dois contos do livro Curva deRio Sujo (2004), de Joca Reiners Terron. O longa-metragem vai se desenhando como umwestern em que motoqueiros travam uma batalha: de um lado, temos brasileiros e, de outro,paraguaios de origem guarani, as duas gangues rivais que disputam por território dentro danarrativa. Alternando romance e ação, é falado em três idiomas: português, espanhol eguarani, permeados pelo legado simbólico de conflitos da Guerra do Paraguai (1864-1870).O objetivo deste trabalho foi demonstrar, comparar e entender a relação de um filmeficcional com o não ficcional desde seu processo de construção. Neste sentido, a ficção NãoDevore Meu Coração retrata a realidade de um fato histórico documental da Guerra doParaguai no âmbito de uma fábula. O roteirista toma como inspiração o conto, ou seja,seleciona uma situação dramática e personagens e desenvolve a história com uma novaestrutura, o que se distingue da não ficção. Portanto, a pesquisa conclui que ficção e nãoficção são uma questão de como fazer a produção cinematográfica. Na ficção, boa parte dofilme já está previamente estabelecida no roteiro, considera-se que existe uma construçãodessa realidade, ou ainda uma representação mais ou menos real desse nosso mundo; a nãoficção é mais orgânica e lida com a realidade de uma forma mais intensa e aberta. As duasvalem-se de suas intenções éticas na linguagem audiovisual. No processo de construção dopensamento, o respaldo teórico contará com: Bill Nichols (2016), Fernão Pessoa Ramos(2008), Doc Comparato (2016), Robert Stam (2003), entre outros que discutem essa temática.