Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, II SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2017

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FEMINILIDADES EM A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR
Maisa Barbosa da Silva Cordeiro, Rauer Ribeiro Rodrigues

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


Este trabalho propõe uma análise do romance A hora da estrela, lançado por Clarice Lispector em 1977, pouco antes de morte da autora. A análise é parte de pesquisa realizada no âmbito do GPLV – Grupo de Pesquisa Literatura e Vida; na pesquisa, analisamos protagonistas femininas das décadas de 1970 a 1990 com a proposta de investigar a representação do processo de emancipação da mulher em romances escritos por mulheres, no Brasil, no último quarto do século XX. Nosso objetivo em A hora da estrela é verificar se há um processo emancipatório da mulher tendo por foco a protagonista, Macabéa. Parece-nos que a voz de Rodrigo SM, escritor-personagem que, em tom paródico, revela e denuncia as relações sociais encenadas no romance, evidencia como tais relações do referente histórico são incorporadas nas ações de Macabéa, a partir de uma relação dialógica (nos termos de Bakhtin, em Estética da criação verbal e Bakhtin, Marxismo e filosofia da linguagem), uma vez que a construção da feminilidade de Macabéa é feita em tom oposto à masculinidade de Rodrigo SM. Enquanto mulher, pobre, nordestina, imigrante, formada de acordo com uma educação autoritária e tradicional (para nos valermos de proposição teórica de Foucault, em Vigiar e punir), Macabéa deixa entrever em suas ações e comportamentos, inclusive corporais, marcas da repressão sob a qual foi constituída. Nosso olhar se direciona, portanto, ao gênero feminino e a estereótipos históricos acerca dele, tendo como base o conceito de violência simbólica proposto por Bourdieu em A dominação masculina e em O poder simbólico, muito embora tal conceito deva ser revisto e modalizado, evitando “vitimizar, mais uma vez, a vítima”, conforme a lapidar expressão de Constância Lima Duarte no artigo Gênero e violência na literatura afro-brasileira. O romance de Clarice parece exemplificar tal tese, pois a protagonista, em meio a privações, sonhos e toda sorte de destituições oriundas e promovidas pela sociedade patriarcal, não se desconstrói ao longo da narrativa, afirmando-se ─ e aqui ecoa um verso de Manuel Bandeira ─ como um cacto na aridez social que a tritura.

Palavras-chave


Emancipação feminina; papéis de gênero; Macabéa; violência simbólica.

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