Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, II SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2017

Tamanho da fonte: 
LITERATURA E HISTÓRIA EM A VIAGEM DO ELEFANTE: RELAÇÕES
Adrieli A. Svinar Oliveira, Gregório Foganholi Dantas

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


O romance histórico tradicional, que alcançou sua excelência nos séculos XVIII e XIX, construía-se sob um olhar narrativo onisciente, respeitoso quanto aos personagens históricos, criador de personagens tipo (que pudessem bem representar, generalizadamente, diferentes camadas sociais do momento histórico mencionado) e, sobretudo, cultivador do detalhe, visando uma minuciosa descrição espacial, em favor da ambientação histórica. Na pós-modernidade, com o advento da Nova História, com a postura de desconfiança frente às grandes narrativas e de questionamento das instituições, o romance histórico passou a adotar o discurso de revisão de fatos e personagens da História dita oficial. Assim, um autor como José Saramago estabelece, por exemplo, em História do cerco de Lisboa (1984), uma longa reflexão metaficcional sobre a escrita historiográfica e a escrita ficcional. Para tanto, o narrador propõe uma revisão de um evento histórico paradigmático em Portugal — o cerco dos cruzados na Lisboa árabe no século XII — através da redação de uma versão alternativa da história, ao mesmo tempo em que questiona continuamente o caráter ficcional dos textos historiográficos, a fragilidade das fontes e da própria linguagem, em sua (in)capacidade de representar o mundo. A viagem do elefante (2008), penúltimo romance do escritor português Saramago, foco deste trabalho, é também um romance histórico pós-modernista, e enquadra-se no conceito de “metaficção historiográfica” cunhado por Linda Hutcheon. O fato histórico revisitado é a jornada iniciada em 1551, quando um elefante cruza a Europa ofertado como presente de casamento por D. João III e D. Catarina de Áustria, reis de Portugal, ao primo Maximiliano, rei da Áustria. Neste livro, José Saramago promove a revisão de temas e procedimentos caros a toda sua obra, sobretudo o comentário metaficcional e o modelo do romance histórico pós-modernista. O presente estudo pretende, portanto, compreender como essa narrativa estabelece tal diálogo, considerando três aspectos de análise: o discurso metaficcional a respeito da própria escrita romanesca, o comentário sobre a reescrita de episódios históricos e a paródia dos discursos oficiais. São, todos esses aspectos, fundamentais para a configuração do romance histórico pós-modernista.

Palavras-chave


Romance português; José Saramago; Metaficção historiográfica.

Texto completo: PDF