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UMA ANÁLISE DO PERSONAGEM MALANDRO EM “O COMPRADOR DE FAZENDAS” DE MONTEIRO LOBATO
Última alteração: 2017-09-27
Resumo
O conto “O comprador de fazendas” faz parte da obra Urupês (1918), que foi escrita em pleno período Pré-modernista, e na qual o autor traz à tona traços da realidade voltada para um regionalismo crítico e realista dos fatos que permeavam o meio social que, no caso de Lobato, são temas relacionados ao desmatamento e à degradação da natureza, recorrentes nos escritos do autor em questão por conta de uma intenção moralizante e didática presente em seus escritos. O conto narra à história de uma família que, arruinada pela situação financeira que lhe assola, resolve vender a única coisa que lhe restara, a Fazenda Espigão, sendo assim a narrativa fala com clareza do sertanejo no interior brasileiro das primeiras décadas do século XX e das grandes devastações do meio ambiente, desligado de temas da fantasia e do pitoresco que até então se vinha abordando nas obras de cunho romântico. Neste trabalho, objetiva-se fazer uma análise comparativa, evidenciando elementos aproximativos de alguns de seus personagens do “malandro” ou “neopícaro”, no conto “O comprador de fazendas” (1917), de Monteiro Lobato. Para a realização desta análise, tomaremos como ponto de partida, em um primeiro momento, aspectos teóricos da picaresca clássica em consonância com as características da formação do personagem malandro brasileiro, sendo assim, pautar-nos-emos pelos estudos de Antonio Candido (1970), Mário González (1994), Altamir Botoso (2010), Roberto Da Matta (1990). Observamos o discurso que é próprio do personagem malandro e que por sua vez é quem sustenta e estrutura o desenrolar dos fatos na obra, bem como de suas relações sociais e históricas. O presente trabalho tem como intenção apontar traços que nos permitem classificar a figura do vendedor da fazenda Espigão, o Sr. Moreira e o personagem principal que supostamente teria interesse na compra, Pedro Trancoso de Carvalhais Fagundes, o “Trancosinho”, como sendo neopícaros no conto mencionado. Diante da narrativa de Lobato, podemos destacar traços da narrativa literária malandra, que estão presentes também na picaresca espanhola clássica, uma vez que temos personagens com características semelhantes e também divergentes, movidos pelo desejo de ascender socialmente e que são movidos pela trapaça, o engano e a mentira. São personagens malandros, que se revestem com resquícios da tradição clássica picaresca e tomam para si novos arranjos para poderem concretizar seus projetos e ganharem espaço em solo brasileiro centenas de anos mais tarde, em uma narrativa envolvente e que traz para si o retrato do que estava ocorrendo no meio social da época.
Palavras-chave
Malandro; Discurso; Personagem.
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