Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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LE DIRE-VRAI: A PARRESÍA DE CLARICE LISPECTOR EM CRÔNICAS DE A DESCOBERTA DO MUNDO
Joyce Alves

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


Esse trabalho é um recorte de minha tese de doutorado na qual caracterizo Clarice Lispector como cronista perceptora, a partir do estudo e da análise de suas crônicas reunidas na coletânea A descoberta do mundo (1981). Observo de modo particular as crônicas cujos temas estão relacionados à fome, à miséria, ao lugar da mulher pobre na sociedade carioca, entre outros assuntos de ordem social e que me permitem apontar na proposta da cronista certo engajamento no que tangem as causas sociais. Nesse sentido, apresento o momento histórico no qual as crônicas foram produzidas com o intuito de entender o que é que se havia de perceber naqueles tempos. Chamo a atenção, sobretudo, para a evidente desigualdade social que acometia especialmente a cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 1960 e 1970, período no qual as crônicas foram escritas. Na época, o Brasil sofria com a ditadura militar e com as ações opressoras por meio da censura que limitava as manifestações artísticas, o que não intimidou Clarice Lispector. A ousadia tímida da cronista transforma-se em parresía literária graças ao caráter denunciativo de seus textos. Esse método de captação da realidade me permitiu chegar ao conceito de cronista perceptora. Entretanto, para esta apresentação, darei especial importância ao aspecto que chamo de parresía literária. Para tanto, amparo-me em arcabouço teórico que gira em torno da crônica enquanto gênero literário de origem jornalística, bem como nas teorias que me permitem explicar a apurada percepção da cronista. Nesse sentido, vale destacar que a parresía é traduzida por Michel Foucault, em O governo de si e dos outros (2010), como sendo o que o autor chama de le dire-vrai, ou simplesmente, “dizer a verdade”. Segundo Foucault (2010), a origem do termo é grega e tem como significado original a expressão “dizer tudo”, mais frequentemente como sinônimo de “fala franca” ou “liberdade de palavra”. A censura do período que abrange a ditadura militar não impediu Clarice Lispector de “dizer tudo” de modo franco e áspero.

 

Palavras-chaves: Clarice Lispector; A descoberta do mundo; crônicas; parresía.


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