Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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NÃO SE NASCE MONSTRO, TORNA-SE: UMA ANÁLISE CRIMINOLÓGICO-INTERACIONISTA DA OBRA FRANKENSTEIN, DE MARY SHELLEY
Tamires Isabel Mendonça Zambotto

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


No presente trabalho foi empregado o método de análise bibliográfica comparativa quanto aos aspectos presentes na obra Frankenstein ou O moderno Prometeu, de Mary Shelley (1998), diretamente relacionados ao que consta nas teorias criminológicas do conflito; desde a teoria do labelling approach de Frank Tannenbaum (1938), conceitos teóricos da escola sociológica do desvio de Howard Becker (2009), o estigma de Erving Goffman (2008), o interacionismo simbólico e o ressentimento de George Herbert Mead (1967), bem como os desvios sucessivos de Edwin Lemert (1951), até pressupostos da teoria existencialista de Simone de Beauvoir (1980), com o objetivo de analisar o caráter criminogênico do processo de estigmatização advindo da reação social ao indivíduo que incorreu em conduta delituosa. Os conceitos de moralidade e legalidade são também delimitados, de modo a elucidar o caráter relativo e mutável de ambos, de acordo com Gilberto Velho (2003), ilustrado a partir do rizoma de Deleuze e Guattari (1995), a depender do contexto em que se fazem presentes. Trechos da obra de Mary Shelley são comparados às anteriormente citadas teorias, com o objetivo de ilustrar quais as consequências da reação punitiva na autoconcepção do indivíduo desviante, como a reação eivada de ressentimento, a reincidência e o comprometimento com o papel de criminoso que lhe é imposto através do rotulamento decorrente do processo punitivo. A análise é construída a partir da utilização metafórica da criatura de Frankenstein de modo a caracterizar o indivíduo que viola as normas do establishment moral, passando, em decorrência disso, a ser considerado anormal, tornando-se estigmatizado; processo que culmina na marginalização e exclusão social do ente desviante, essa exclusão é um gatilho para a internalização da persona criminosa que a partir da reação punitiva ao desvio primário passa a nutrir profundo ressentimento e a reincidir sucessivamente até tornar-se de fato um criminoso. As conclusões obtidas com a observação do comportamento ressentido da personagem do monstro de Frankenstein em relação aos processos estigmatizantes e de marginalização a que é submetido e das reincidências delitivas que transcorrem ao longo do romance em conjunto com as supracitadas teorias, traçam a crítica ao conceito do sistema punitivo idealizado como inibidor de condutas antijurídicas e passam a apontar a ineficácia do sistema punitivo, que agrava o comportamento antissocial e fomenta a reincidência.


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