Sistema Eletrônico de Administração de Eventos da UFGD, III SELAC - Seminário de Literatura e Arte contemporânea - 2018

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OS FRAGMENTOS DA LITERATURA: EVOCAÇÕES DA LINGUAGEM CUBO-PICTÓRICA PELA LINGUAGEM LITERÁRIA
Sidney Barbosa, Alan Brasileiro de Souza

Última alteração: 2018-09-30

Resumo


A comparação entre os modos de estruturação dos diversos fazeres artísticos constitui um tropo secular no campo das humanidades. Do princípio do Ut pictura poesis que o filósofo e poeta latino Horácio recupera na sua Epístola aos Pisões aos recentes estudos da Intermidialidade, muitos pontos foram explorados, de modo que, ao passo dos séculos, a aproximação entre as artes tem suscitado métodos de abordagem e análise distintos – tão distintos, na verdade, quanto são as materialidades estéticas que podem ser incluídas nesse conjunto a que chamamos Arte. Neste trabalho, interessa-nos pensar o desdobramento, talvez, mais tradicional desse campo, as fricções entre a Literatura e a Pintura, enunciadas e já anunciadas no discurso horaciano. Centramo-nos, dessa maneira, nos possíveis efeitos estruturantes e de sentido apresentados pela evocação da linguagem pictórica própria da vanguarda cubista pela linguagem literária realizada no âmbito do modernismo brasileiro, dentre outros. Inicialmente, importa lembrar que a arte produzida no contexto do modernismo orienta-se, em termos gerais, pela recomposição dos procedimentos de representação da realidade empírica; gesto motivado em grande medida pelas intensas mudanças experenciadas pela humanidade na passagem do século XIX para o século XX. No Cubismo, este movimento traduziu-se, dentre outros modos, pela desrealização, fragmentação e redução das formas naturais aos seus traços básicos geométricos, bem como pela implosão da perspectiva renascentista. Diante desse contexto, partimos da hipótese de que o reordenamento estético proposto para a composição imagética nessa vanguarda é também manifesto no texto literário, sobretudo, na construção de estratégias de visualidade por ele engendrado. Como traço distintivo dessa relação, manipulamos, em primeiro plano, a fragmentação do discurso ficcional – observando, ainda a sua projeção no plano da página literária – e, num desdobramento disso, a decomposição das imagens dadas a ver nessa enunciação. Para que possamos evidenciar materialmente este vértice do dialogismo entre as artes da escrita e da imagem, podemos tomar como objeto o romance Angústia ([1936] 2009) do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), obra cuja tessitura é reconhecidamente erigida a partir de uma organização fragmentária que engloba tanto a estruturação narrativa do enredo, quanto a enunciação levada a curso pelo narrador-personagem e que, no nosso entendimento constitui um exemplo acabado desse paralelismo entre Pintura e Literatura.

 

Palavras-chave: Literatura; Pintura; Cubismo; Escritura; Intermidialidade.

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